sábado, 11 de abril de 2009

Despertar da magia


Quando foi da natureza própria das coisas - quando a toda a essência pertence despertar, florir, cantar pela primeira vez - tal qual ave que nasce - quando de tudo foi próprio dos amantes…também nos pertencemos tão desastrosamente quanto a tal ave que se atrapalha com os primeiros vôos que ensaia, aparentamente tão atraentes, quanto perigosos…
Assim nos pertencemos naquela época de 1986, durante a essência da estação a que os Homens deram o nome de Primavera… poderia ter sido o “despertar dos mágicos” !!
Recordo que nos amámos tão desastrosamente quanto se pode imaginar e, contudo, na essência da pele apenas sentimos o desmonorar da mesma magia.
Não cantámos como seria próprio dos ‘mágicos’… foi o amor mais louco que poderiamos ter tido um dia, no entanto nunca sentimos tão amargamente, tão penosamente, uma dor assim tão perto de nós…tão ligada à essência das nossas vidas, tão desastrosamente real - o vazio dos nos corpos - farrapos tão pouco…secos…quando se desfiando se o vento nos soprasse.
Assim se passou… e hoje fazemos por nos esquecer.
Contudo, nunca me senti tão mágica assim!
Julho de 1986

Assim tinha de ser

Porque o mar tem asas, porque o mar tem querer, ele é o que é, nada mais pode ser.
É... simplesmente na sua forma…
É... simplesmente assim na sua cor… ele é assim mesmo com todo aquele azul em cima…
Porque assim tinha de ser! Simples, mas majestoso e orgulhoso da sua cor !

Mil poemas que fiz toda a vida, mil poemas de mar, de terra, sobre pessoas que nada merecem, pois quando tudo parecem merecer, há algo que se desvanece
e eu…fico sem graça,
sem jeito, sem cor!
Porque assim igual ao mar, tão natural e expontâneo, tal qual eu e os meus dias … tanto te dou no meu sorriso… sinto-me bem agora, cheia de ti, tão vazia de nada receber. Mas é assim… o sorriso que mando à frente só encontra o deserto. .. ou a vastidão deste grande mar !
Já nada nos resta, apenas o quotidiano que galgamos passo a passo, mas vazios… mais um cigarro, mais um vazio.
Hora de almoço. Tudo calmo. Resto eu no 1º andar. Sabe bem esta tranquilidade. Saber-me só comigo, que comigo me entendo!
Fico assim á espera que o vento apareça, corre por mim uma aragem fresca, brisa morena...
aqui e ali canta um pássaro roxo, verde arcoiris do meu deserto, da minha solidão que sabe bem… que sabe a água, se bem que água não tenha gosto...
mil cores dentro de um caixa branca…ou verde, de esperança !
Conto as horas que me separam de ti, fico sossegada á espera de mil fontes, barcos, areias molhadas…
Nada havia a esperar, no entanto.
A vida tem que seguir o seu rumo, por isso escrevo estas e outras linhas que voltarão a encontrar-te!

Agosto de 1979

sexta-feira, 3 de abril de 2009

À beira do cais ou o precipício do amor

Desembarco... são 5h da tarde e o tempo está frio. É Outuno no seu fim.
Desço no cais do esquecimento, repondo uma semana atrás da vida. Olho com ternura a paisagem antiga, tudo o que ela me trás e o que fui... paisagem já tão familiar que amei com imensa alegria. Lembro-me das ruas, das casas, dos pássaros e...das pessoas ! dos cafés... lembro-me de tudo como se fora hoje...
é a precisa hora exacta em que tudo se recorda... que alegria que era ! que alegria que tinhamos... escondia no fundo uma certa mágoa de não te ter só meu... Foram dias e dias, meses e meses cheios de tudo, muito fortes... dentro dos teus olhos uma certa nostálgia, da cor do arco-iris...exactamente assim mas um pouco amarga. Foi um tempo feliz, cheio de esperanças (por vezes vagas) quando de repente.... aí vem o Inverno feito furacão ... derrubando casas, ruas, risos, pessoas... amarga tempestade nas minhas / tuas mãos... fiquei interiormente esquecida entre um degrau e a porta... não sabendo se entrar mais uma vez na tua vida ou se sair correndo de ti para fora !
E corri ! como um cego aos tropeções... nas lágrimas que me caiam... sim, corri ! Fiquei amarga e só , balançando entre o perdão imediato e gratuito que não mede razões e a imagem dura e fria de quem está ofendido no seu amor próprio. Sim, optei pela segunda e ao fim de uma semana aguento-me na minha luta!

" ATENÇÃO SENHORES TELEESPECTADORES... o filme acaba neste intervalo por avaria alheia à nossa vontade.
Houve um corte de energia !
O programa não seguirá dentro de momentos !
Obrigada e...desculpem !
Não passou tudo de um equívoco, alguém estranho aos nossos serviços intrometeu-se na cabina e boicotou o sistema .
BOA NOITE "

Outono 1979

Poemas de amor

Não quero falar de poemas, nem de cartas de amor. Poemas de amor seriam para o meu amor que está doente... doente, porque não sei mais se ele existe. Transformou-se numa flor murcha pois que não lhe mudamos a água, num barco de papel que atirei ao mar, sabendo que o destino é lá onde não possa pobre barquinho voltar atrás... e ser navio de cruzadas !
Atravessar tudo como quando tinha a força de sentimento alto e verde que construí para percorrer as ruas dos meus dedos! Quero sentar-me calmamente na ponte dos meus dias futuros, não querer nem esperar nada daqueles que me rodeiam... Estar fria e seca como árvore de um Outuno lento...progressivo... Encontrar-me na passagem da mágoa para o frio sentido de me aperceber da realidade que me cerca e aí ficar muda e queda sem mais me desapontar, esperando que o Inverno chegue e me contagie com a sua frieza, me ajude a suportar este arrepio medonho que se acerca de mim que não é mais do que a tua presença, agora - incalculável - imprevisível - mas, de facto, abominável presença irónica... bola de naftalina, alguém que nos separou como se esperasse o fruto amargo da vida que assumiu, aguardando que o tempo o tempere e amadureça para o recolher vitorioso, finalmente, em suas mãos.

1979

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Às minhas filhas ou ...aos jovens em geral

Hoje lembrei-me do Professor ROMANOV… e desculpem filhas se pareço enfadonha, mas apeteceu-me escrever-vos algo…
Uma das mais dificeis decisoes que um ser humano possa tomar é aquela que coloca o percurso de vida de alguém que amamos em situação não diria de risco pois isso é dimensionar demais, mas que sabemos poderá ter um impacto melhor ou…pior na sua vida futura !!! Vá-se lá saber não é? Decidir a nossa vida… tudo bem, o risco somos nós que o corremos. Podemos sempre virar o nosso eu do avesso e procurar outra estrada… ou não tomar nenhuma, aguardando que o tempo se encarregue de colocar as pedrinhas certas por onde caminharemos a seguir… iremos descalços propositamente para sentir bem o chão que estamos a pisar. Mas tomar decisões relativamente aos jovens… será que estamos a apontar-lhes o caminho mais curto para atingir as metas que achamos serem as melhores para eles ? Será que estamos a falar uma linguagem adequada ? Será que estamos a entender o que se passa nas suas almas ? Julgamos nós que si, esquecendo-nos que cada um de nós é um ‘indivíduo’ e como tal um ser único…não queiramos ter a pretensão de nos acharmos sabedores do que dentro de suas almas se passa… cada um de nós é um mundo desconhecido, a menos que da nossa essência tenha vingado a aposta de termos uma alma transparente, um coração bondoso e calmo. Por mais que tenhamos sentido que transmitimos aos nossos filhos valores básicos, essencias - a ética, a coragem, a verdade, responsabilidade, deparamo-nos um ou outro dia com atitutes que em nada indiciam os tais valores que falo atrás e que julgamos estarem enraizados neles. Perdemo-nos então em mil questões que nos atormentam, perguntamo-nos afinal quem é este filho(a) com quem convivemos e julgamos conhecer ?
Quem dera todas as escolas tivessem um Professor Romanov que entendia que enfrentar a ansiedade nos momentos de tensão e construir um clima de tranquilidade é fundamental para se raciocinar bem, debater ideas e poder fazer-se escolhas. Ele percebeu que gerir a emoção é fundamental para irrigar a razão.
Romanov falou algo súbtil e sabedor aos alunos - falou-lhes da matemática das emoções que passo a citar “ os bons alunos aprendem a matemática numérica, os alunos fascinantes vão mais além, aprendem a matemática da emoção, que não dá resto 0 e que rompe com a regra da lógica. Nessa matemática, só se aprende a multiplicar quando se aprende a dividir, só se consegue ganhar quando se aprende a perder, só se consegue receber quando se aprender a dar “

Agora sim percebo porque razão o meu Pai parecia não se preocupar nem me 'cruxificar' por eu não ser uma boa aluna, eu tinha o resto… que ajudaria a fazer de mim para a vida o que agora sou… Tenham uma vida feliz - as contas das relações humanas não são exactas