Os filhos únicos têm o hábito de se entreter com qualquer coisa
Uns tornam-se exigentes… porque a sua imaginaçao não tem limites
Outros, pelo contrário, ficam presos ao circulo que lhes é possível atingir ou… a sua imaginação não é tão fértil… vá-se lá saber!
Sempre fiz guardanapos de papel que recortava habilmente com uma tesoura de costura de pontas aguçadas
Saiam verdadeiras obras de arte
Continuei recortando a minha vida…umas vezes para a direita, outras para a esquerda e muitas vezes cortava em frente - Depois logo se via o resultado !!!
Quando não sabia o que fazer cortava em frente…e ás vezes deitava no lixo o guardanapo ensaiado em obra de arte…
Quis fazer dos meus dias uma mesma obra …
Estes… continuam a ser recortados como quem com uma tesoura faz guardanapos de papel
Vou tendo acesso a uma branda felicidade
No meu caminho cruzam-se de quando em vez luzes guarnecidas
Dão-me uma flor imaginária, solicitam a minha atenção…
Dão uma cadeira para me sentar ao sol, mas não colocam almofada para que a estadia ao sol não seja tão confortável que pense que os meus dias são sempre aquele ‘solário’ ….
Não sinto que os pássaros do amanhecer tenham a força nas asas …
o suficiente para cortar os céus,
Rasgar madrugadas, cortar os horizontes da aventura,
Cortar o cordão umbilical… deixar tudo e todos, porquê me preocupar tanto pelo facto de ser única filha e ter interiormente este compromisso para com os outros? Ir-me-iam perdoar pelo ‘abandono’ ?
De que me serviu … ou serve ainda agora… Certo será que escolhi ser independente…
A independência teve agora mais do que nunca o expoente mais alto -aquilo que sinto ser o seu preço - um sentimento de ‘não estar à altura’ de algumas ( poucas ) pessoas que cruzam as entrelinhas do meus caminhos - não sei distinguir entre o ‘aqui’ e o ‘acolá’
Falta-me a visão ou a antevisão do brilho mais alto da viagem ao mundo da realidade - outros paises - outras culturas - outras vivências - outras madrugadas e outros anoiteceres que nunca presenciei
Não, não tenho o que contar
Apenas me perco e viajo nos recortes dos meus guardanapos de papel…
felizmente escrevo e sempre escreverei, muito ou pouco, um dia... outro não...
mas sim, escreverei, felizmente escreverei... passarão meses ? quem sabe...
mas escreverei !!
Voltarei sempre à Tesoura, ao Papel e à escrita...